Fé, etnicidade e resistência: a comunidade festeja um santo em aquilombamento

Abstract

Neste trabalho pretendo entender a representação que o festejo em honra a Santo Antônio tem para a comunidade Rio Grande, situada no município de Bequimão, região norte do estado do Maranhão, tendo em vista que a mesma possui certificação da Fundação Cultural Palmares afirmando a condição de remanescente de quilombo, solicitada por auto atribuição da comunidade. Essa é uma comunidade quilombola histórica, que em pleno século XXI, luta pela manutenção de seu território através de suas manifestações culturais e religiosas que são passadas de geração para geração. O mundo da vida dos moradores de Rio Grande é regido por regras que são respeitadas e proporcionam a manutenção da comunidade, dos laços que são criados, dos laços que são desatados e das rixas que mantidas dentro de uma lógica comunitária, que respeita e compreende, porém não interfere na dinâmica social e política do território. Pretendo entender o que leva as mulheres da comunidade a deixarem suas casas e levarem seus/suas filhos/filhas menores para o barracão, onde irão preparar a comida dos quatorze dias de festejo, sem que aja nenhum tipo de relação empregatícia entre o “dono da festa” e as mulheres que cozinham, limpam e cuidam dos detalhes mais sutis para que o festejo aconteça da melhor forma possível. As relações que são construídas e as que são fortalecidas representam parte da organização social e política da comunidade, onde pretendo analisar quais aspectos são evidenciados e quais são negligenciados pelas agentes sociais do preparo do festejo. As mulheres foram escolhidas para protagonizar um dos capítulos deste trabalho por trabalharem juntas do início ao final do festejo. E por fim tentarei mostrar o que acontece nas novenas e nas festas dançantes, o que o festejo representa para a comunidade como elemento de luta e construção de uma identidade coletivas na busca por direitos e políticas específicas para quilombolas.