Os cursos de graduação no Brasil têm conseguido formar psicólogos competentes?

Abstract

No cenário atual, a formação em Psicologia requer uma amplitude maior do que a que existia quando do surgimento dos primeiros cursos. A presente tese tem por objetivo avaliar a formação em Psicologia ofertada por instituições públicas e privadas no Brasil, tendo como eixo estruturante as competências profissionais estabelecidas para a área. Para atingir esse objetivo foram realizados quatro estudos integrados. O primeiro analisou a evolução da formação em Psicologia a partir do desempenho dos discentes nas edições do Enade de 2006, 2009 e 2012. Os resultados foram positivos no tocante à participação em atividades extraclasse, com aumento gradativo nas edições. Entretanto, as notas do componente geral e específico abaixaram muito no período, indicando possíveis falhas na formação. O segundo estudo permitiu identificar, a partir das atuais diretrizes curriculares dos cursos de graduação, a importância que docentes (74) e gestores de curso (40) atribuem às competências profissionais da formação em Psicologia, bem como o grau de domínio que eles consideram que os alunos desenvolveram em cada uma delas. Os resultados apontaram maior carência nas competências relativas a Formular questões empíricas de investigação científica; Elaborar relatos científicos; e Elaborar pareceres técnicos, laudos e comunicações profissionais, com diferença significativa entre instituições de ensino públicas e privadas, com resultados mais desfavoráveis para os concluintes advindos das instituições privadas, que são as responsáveis por formar o maior quantitativo de psicólogos no Brasil. O terceiro estudo teve um desenho longitudinal e permitiu avaliar o processo de aquisição de competências na graduação em Psicologia ao longo da formação acadêmica. Nesse estudo, 213 discentes de uma universidade pública e outra privada da cidade de São Luís-MA avaliaram seu grau de preparo nas competências profissionais estabelecidas para a formação em Psicologia. Os resultados indicaram ganhos de competências ao longo dos diferentes semestres do curso, porém sem diferenças significativas entre os estudantes, ou seja, as possíveis diferenças individuais no momento de ingresso no curso são mantidas ao longo da formação. Além disso, a iniciação científica atua como preditora das competências relativas ao Domínio de Competências e Habilidades de Pesquisa Científica; enquanto a participação em atividades de extensão teve poder de predição sobre as três dimensões das diretrizes curriculares para o curso de Psicologia – Competências e Habilidades de Pesquisa Científica; Intervenção em Processos Psicológicos Grupais e Organizacionais; e Intervenção em Processos Psicológicos Individuais. Ao contrário do que seria esperado, a participação em estágio e a duração do mesmo não contribuíram para a aquisição de competências em nenhuma das três dimensões que foram mensuradas. Isso confirma uma crítica frequente aos estágios de que eles nem sempre cumprem com o papel de aprendizagem. O quarto e derradeiro estudo teve abordagem qualitativa e analisou a percepção de egressos acerca dos elementos que contribuíram para a sua formação profissional. Os participantes entrevistados dividem-se em três grupos: os de início de carreira (até 2 anos de atuação na Psicologia); os que já ultrapassaram a fase inicial de carreira (5 anos ou mais anos de atuação); e os que concluíram a graduação em Psicologia, mas não atuam na área. Destacam-se nos resultados como competências menos desenvolvidas aquelas relacionadas a saúde pública; Psicologia escolar e psicopatologia, confirmando a perspectiva tradicional da formação voltada para a atuação clínica e processos individuais. Os resultados obtidos foram discutidos à luz da literatura de formação em Psicologia e foram apresentadas as principais implicações e limitações dessa tese, bem como a proposição de uma agenda de estudo para a temática