Biomarcadores bioquímicos e histológicos em caranguejo-uçá ucides cordatus (crustacea, decapoda, ocypodidae) para monitoramento na Baía de São Marcos, Maranhão

Abstract

Impactos antrópicos oriundos de atividades industriais, portuárias e domésticas são prejudiciais para a biota aquática. Biomarcadores são as respostas em diferentes níveis de organização biológica capazes de diagnosticar e mensurar a sanidade dos organismos diante das situações adversas do ambiente, sejam elas de aspectos naturais ou antrópicos. Neste estudo objetivou-se analisar biomarcadores bioquímicos e histológicos em Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) para o monitoramento de áreas próximas a empreendimentos portuários e uma Área de Proteção Ambiental na baía de São Marcos, Maranhão. As coletas dos caranguejos machos, adultos (n=160) foram realizadas em quatro áreas na baía de São Marcos: A1 = Ilha dos Caranguejos (de baixo impacto e integrante de uma Área protegida por lei); A2 = Coqueiro, A3 = Porto Grande, A4 = Cajueiro (áreas potencialmente impactadas, inseridas ao longo do complexo portuário de São Luís, Maranhão, costa norte do Brasil). De cada área dez exemplares foram coletados de dentro de suas tocas em dois períodos do ano (chuvoso/março de 2018/2019 e estiagem/julho de 2018/2019). De cada exemplar amostrado foram obtidos os dados biométricos, como a largura e comprimento da carapaça (LC, CC em cm), largura e comprimento da quela (LCQ, CPQ em cm), comprimento do dedo móvel (CDM em cm) e peso total (g). Amostras de brânquias e hepatopâncreas passaram por procedimento da técnica histológica padrão e por procedimentos bioquímicos (análise da atividade das enzimas glutationa-S-Transferase - GST e catalase - CAT). Paralelamente às coletas, foram aferidos os parâmetros físico-quimícos da água. Foram coletadas amostras de sedimentos de cada área amostral para análises de metais. As atividades enzimáticas de GST e CAT em brânquias e hepatopâncreas (no ano de 2018) apresentaram-se mais elevadas em caranguejos de A3 e A4 (p<0.05) do que nos caranguejos de A1 e A2. As alterações branquiais (em 2018) nos caranguejos (rompimento das células pilastras, deformação do canal marginal, deslocamento da cutícula e necrose) apresentaram-se mais frequentes em A2, A3 e A4 (p˂0,05) que em A1. As alterações hepáticas (em 2018) nos espécimes (lúmen anormal, camada epitelial danificada, células B vacuolizadas e necrose) demonstaram ser mais frequentes em caranguejos em A2, A3 e A4 (p˂0,05) do que nos de A1. Alterações das enzimas CAT e GST em brânquias e hepatopâncreas de caranguejos (coletados no ano de 2019) foram altas nos exemplares de A2, A3 e A4 em comparação aos de A1. No ano de 2019 as alterações em brânquias e hepatopâncreas apresentaram dissimilaridade de 95% de confiança para as áreas A2, A3 e A4 em comparação com A1. As médias e desvios-padrão dos dados biométricos no ano de 2018 indicaram que os caranguejos de A1 são significativamente (p<0.05) maiores e mais pesados que aqueles de A2, A3 e A4. A biometria dos caranguejos em 2019 indicou que os mesmos estavam maiores e mais pesados em A1 na época chuvosa e A3 e A4 na época de estiagem (p<0.05). As análises de todos os metais pesados nos sedimentos e nos tecidos de caranguejos indicaram diferenças significativas entre as áreas amostradas, sendo que o zinco foi o elemento que apresentou maiores concentrações na região portuária. As concentrações de metais e as respostas biológicas alteradas (alterações branquiais e hepáticas e atividades da GST e CAT) indicaram que esses animais estão submetidos a níveis de estresse diferenciados (A1<A2<A3<A4) em um gradiente de pressão antrópica na Baía de São Marcos